quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Mal de Bartleby


Descobri que durante mais de 10 anos fui acometido do Mal de Bartleby. Não, nada a ver com a saúde deste escrevinhador sessentão, felizmente. É uma síndrome que faz os escritores desistirem de escrever. Uma reportagem na edição de abril da revista "Literatura" elucida essa doença de escritores. Os motivos são variados, como a sensação de que tudo já foi dito, a impressão de que a literatura caminha para o seu fim ou a simples falta de inspiração. Muitos desistiram por medo, outros por acharem a escrita inútil ou devido a uma autocrítica mordaz.
Leio na reportagem que o nome da síndrome surgiu a partir do conto "Bartleby, o escrivão", de Herman Melville, o autor de"Moby Dick". Na história, o tal Bartleby trabalha num escritório de Wall Streeet e passa os dias a negar a própria existência. A cada tarefa que recebe, ele apenas afirma que "preferia não fazer". Pois esse cara que "preferia não fazer" tornou-se sinônimo para os "escritores do não", por meio do autor espanhol Enrique Vila-Matas. No seu livro "Bartleby e Companhia", Vila-Matas disseca dezenas de autores que desenvolveram a síndrome e mostra que escrever é uma atividade de alto risco. Alguns desses autores que renunciaram à escrita foram Rimbaud, J.D. Salinger, Juan Rulfo, Nicolai Gogol, Juan Ramón Jimenez e o brasileiro Raduan Nassar, autor de "Lavoura arcaica".
Pois essa sombra de Bartleby, para quem busca o melhor, significa que o ato de escrever é cheio de dificuldades que muitas vezes arrasam os escritores. Como disse o poeta gaúcho Fabrício Carpinejar, na mesma reportagem, "a gente tem que combater, ao mesmo tempo, a facilidade e a dificuldade. Por isso, a literatura é tão difícil. Ela é uma medida e nem todos admitem o possível, todos querem o ideal". Aqueles que escrevem assinam embaixo, esperando parar após escrever algo próximo de um best-seller.

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