segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Entrevistando Martha


Consagrada como cronista, Martha Medeiros anda sem tempo para nada, agora que os compromissos aumentaram devido ao sucesso do filme “Divã”, baseado em seu livro do mesmo nome, que antes de ir para a tela fez uma bela carreira no teatro e pode ser conferido nas videolocadoras da cidade. Hoje com 48 anos, aparentando bem menos, ela diz estar com “o espírito muito mais aberto do que tinha antes” e que “escrever é terapêutico”. Casada, duas filhas, faz caminhada e musculação. Adora ler, viajar, vinho tinto e cinema. Ah, não fuma nem faz terapia e torce pelo Internacional. Entre uma e outra brecha na sua agenda, nossos e-mails se cruzaram várias vezes e o resultado é esta proveitosa entrevista. Deliciem-se.

Como você consegue essa quase unanimidade em torno de suas opiniões sobre os mais diversos assuntos? O segredo estaria em se expor sem reservas?
MARTHA - Todos que escrevem se expõem, principalmente quem escreve sempre na primeira pessoa, como eu. A alma fica escancarada e isso estabelece certa cumplicidade com o leitor. Não acredito que eu seja uma unanimidade. Há gente que não gosta do meu trabalho, só que costumam não se manifestar, o que atribuo a um respeito que conquistei, ou seja, não gostam, mas percebem que existe honestidade no meu ofício. Mas, para minha sorte e prazer, são muitas as pessoas que se identificam com o que escrevo e acho que isso acontece porque trato sobre assuntos mundanos com leveza e seriedade ao mesmo tempo.

Essa sensibilidade que mostra nas crônicas foi exposta a partir de que idade? A época da adolescência influiu muito na Martha de hoje?
MARTHA - Eu era bem mais fechada, introspectiva, e lia muito, o que me deu certo embasamento. Mas só comecei a expor meus sentimentos e ideias a partir da fase adulta. Costumo brincar que na adolescência eu era uma velha e hoje, aos 48, me sinto mais jovial, mais animada, mais disposta para o que a vida traz. Tenho o
espírito muito mais aberto do que tinha antes.

Quando escolhe um tema já sabe como explorá-lo e o texto sai com facilidade? E ocorre quando o assunto não avança?
MARTHA - Eu escolho o tema, mas só vou saber o que realmente penso sobre ele enquanto escrevo. As palavras jorram no automático, é quase uma psicografia! Eu mesma me surpreendo, às vezes, com o rumo que a crônica tomou. Por isso que eu digo que escrever, para mim, é terapêutico, promove meu autoconhecimento até hoje. E há ocasiões em que empaco, sim. Tem vezes que meu raciocínio se encerra num único parágrafo. E aí o que fazer para preencher o resto do espaço? Nessas
Horas, é preciso desistir do texto e começar outro.

A sensatez pauta o que você escreve, junto a um sentido de liberdade que parece aliviar seu cotidiano. Até que ponto a Martha se desnuda nas crônicas?
MARTHA - Só existe a Martha verdadeira, não existe outra. Em tudo o que faço, vivo, sofro e me coloco inteira. Não há um personagem por trás, mas claro que não somos blocos monolíticos. Eu tenho o meu lado de aventureira, meu lado careta, meu lado convencional, meu lado roqueira, meu lado maternal, meu lado masculino, meu lado mulherzinha. Enfim, não me reduzo a um único perfil, mas me sinto muito íntegra nessa pluralidade, que, volto a dizer, não é só minha, é característica de todos nós. Mesmo quando escrevo ficção, não consigo me afastar muito de quem sou.

Um novo livro à vista, neste ano? Pretende voltar à poesia?
MARTHA - Pretendo, mas os dias passam tão ligeiros, há tantos compromissos, tantas viagens, tantos prazos de entrega... A crônica me absorve muito e a poesia demanda certa paz para escrever. Não estou conseguindo “agendá-la” no meu corre-corre, mas é um compromisso que estabeleci para mim: ano que vem, publicarei novos poemas e também um novo livro de ficção. Não haverá lançamento neste ano, que incrivelmente já está na sua metade final.

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